Parece um flashback. Hoje, como fizeram nas décadas de 1970 e 80, as torcidas de Grêmio e Inter empolgam-se com Renato Portaluppi e Paulo Roberto Falcão. Antes jogadores decisivos, surgem hoje como técnicos com o respaldo e a confiança dos fãs. Mais uma coincidência une os craques: ambos foram forjados nas categorias de base dos clubes. Sim, Renato e Falcão também são pratas da Dupla. Natural de Guaporé, Renato ficou conhecido como o menino de mil diabruras nos campos de Bento Gonçalves. Em 1980, deixou a Serra e se alojou no Grêmio. Subiu aos profissionais em 1982 e só ganharia a titularidade em 1983, com as saídas de atacantes renomados e com a chegada de Valdir Espinosa. Mas, em 1981, ele teve um gostinho de como era a vida de um profissional. Naquele ano, o clube fazia uma grande excursão, que começou na América Central, passaria pela Europa até se encerrar nos Estados Unidos, num amistoso contra o lendário Cosmos. Em meio aos jogos em Barcelona, Tarciso e Baltazar foram convocados para a Seleção. O jeito foi buscar um valor da base para preencher o grupo. A bola da vez era Renato. Antonio Carlos Verardi, à época diretor de futebol, estremeceu: um guri do Interior iria encarar um voo internacional, cheio de conexões e com o problema de uma língua estrangeira? Ansioso, Verardi foi esperar o jovem no aeroporto. Todo mundo passava pela área de desembarque, menos Renato. Minutos depois, surge o garoto. — Como foi a viagem? — perguntou o dirigente. — É, boa — balbuciou Renato, com a autoridade do mais veterano colecionador de milhas, longe de parecer um atleta dos juniores, ávido por uma chance entre os profissionais. Na ocasião, o Grêmio venceu o Cosmos por 3 a 1, com Renato no banco. Começava ali uma cumplicidade que não mais acabaria. No início deste ano, uma renovação da amizade: o hoje supervisor de futebol, 75 anos (45 só de clube), participou de uma campanha em que se associou ao Grêmio junto com Renato. A mesma relação duradoura tem Cristóvão Colombo com Falcão. Hoje aos 66 anos, Colombo jamais esquece o dia em que viu o jogador pela primeira vez: lá estava o guri de Abelardo Luz, magricela, madeixas louras e apenas 14 anos – havia chegado ao Beira-Rio com 11. Todo o dia o então diretor do departamento amador do Inter recepcionava dezenas de garotos. Falcão era somente mais um. Isso até Ernesto Guedes e Marcos Eugênio, técnicos da base, chamarem a atenção de Colombo para as qualidades do jovem. – Mas não eram só eles. Todo mundo falava de Falcão. Dessa época, surgiu o apelido Bola-Bola – conta Colombo, direto de São Paulo onde trabalha num escritório de advocacia. Com seu olho meticuloso para grandes jogadores, o técnico Dino Sani tirou Falcão do juvenil (o atual júnior) e o lançou ao profissional em 1973, aos 19 anos. A partir daí, a história fala por si. O mesmo Dino Sani indicou Falcão em 1980 para o futebol italiano. Neste momento, Colombo, em quem o volante confiava plenamente, deixou de ser diretor da base para ser o procurador do camisa 5. Atuante até hoje, Colombo também participou do retorno de Falcão como técnico, após a demissão de Celso Roth. Na vida pessoal, é padrinho de casamento do ex-jogador, enquanto Falcão apadrinhou um dos filhos de Colombo. - Eu mereço a consideração dele como um irmão mais velho. Ou um pai mais novo – brinca. Verardi e Colombo cobrem de elogios os garotos que viram crescer e se tornarem ídolos em campo. Para o dirigente gremista, Renato tinha “a intuição de um grande jogador”. Colombo, por sua vez, considera que Falcão dava “tonalidade ao jogo”. O advogado vai além e estende a infindável lista de elogios e conselhos a qualquer garoto que sonha em seguir os passos desses dois jogadores: - O fato de o jogador se destacar não é só uma questão de qualidade, de vocação. É também por ter coragem de sonhar e enfrentar os problemas que vão surgir na carreira.
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